quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Horizontes

Dois horizontes fecham nossa vida:

 Dois horizontes fecham nossa vida: 
Um horizonte, — a saudade
 Do que não há de voltar;
 Outro horizonte, — a esperança
 Dos tempos que hão de chegar; 
No presente, — sempre escuro, —
 Vive a alma ambiciosa
 Na ilusão voluptuosa
 Do passado e do futuro.
 Os doces brincos da infância 
Sob as asas maternais, 
O vôo das andorinhas, 
A onda viva e os rosais.
 O gozo do amor, sonhado
 Num olhar profundo e ardente,
 Tal é na hora presente 
O horizonte do passado. 
Ou ambição de grandeza 
Que no espírito calou, 
Desejo de amor sincero 
Que o coração não gozou; 
Ou um viver calmo e puro 
À alma convalescente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do futuro. 
No breve correr dos dias 
Sob o azul do céu, — tais são 
Limites no mar da vida: Saudade ou aspiração; 
Ao nosso espírito ardente, 
Na avidez do bem sonhado, 
Nunca o presente é passado, 
Nunca o futuro é presente. 
Que cismas, homem? — 
Perdido No mar das recordações, 
Escuto um eco sentido 
Das passadas ilusões. 
Que buscas, homem? — Procuro, Através da imensidade,
 Ler a doce realidade Das ilusões do futuro.
 Dois horizontes fecham nossa vida.

 Machado de Assis Machado de Assis

Um comentário:

  1. Muito lindo esse Blog, encantada com as belas postagens.
    As poesias e os poemas são demais.
    Estou feliz em estar aqui neste momento, muito sucesso!
    Felicidades !!

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